Pano pra manga retalho pra capanga "O nascimento"

    Chegou o grande e medonho dia de Filipe vir ao mundo, a mulher estava ansiosa e com medo, devido ao trauma que teve em seu primeiro parto, em que a pobre mãe de primeira viagem, sofreu com as contrações por mais de doze horas, até dar à luz a sua primeira filha, o segundo não foi tão difícil, porém ela sentia que esse também não seria fácil, devido ela estar mais velha e por ser um enorme bebê, como revelara a ultrassonografia.
    O marido levou a mulher até ao hospital no início da manhã, já em trabalho de parto, com a bolsa rompida.
    Chegaram no hospital, foram recepcionados por uma enfermeira que encaminhou a mulher diretamente para a sala de parto, já com fortes contrações.
O homem ficou na portaria rezando e esperando por notícias, e depois de duas horas, foi avisado por uma enfermeira que seu filho nascera e que poderia vê-lo.
Antônio, muito emocionado, foi ao encontro da esposa e o bebê, imaginando pelos corredores do hospital como seria aquela criatura e perguntava para si mesmo.
    — Será que ele tem os olhos castanhos iguais aos meus?
    — Ou pretos, igual da sua irmã?
    — Deve ser moreninho igual à irmã!
Após andar por vários corredores e se perder no hospital, finalmente ele chegou na maternidade.
Sua esposa estava sentada na cama, tomando um prato de sopa, e tinha um lindo sorriso no rosto!
    Ela colocou o prato em cima de uma mesinha ao lado da cama, deu um longo e afetuoso abraço no marido que estava em lágrimas.
     Ele a interrogou:                                                                                                
       — Onde está o bebê? 
       — Está na incubadora?
Ela sorriu e respondeu:
  — Deus me livre!
  — Não!
  — A enfermeira está dando banho nele.
E completou com um olhar diferente.
  — Ele é um alemãozinho!
O marido meio pasmo e acreditando que não entendera direito respondeu:
  — Como assim?
  — Alemãozinho?
Ela brincou.
  — Não precisa ficar assustado e nem mandar fazer “DNA”!
  — O filho é seu e não foi trocado na maternidade, pois só eu ganhei menino hoje, as outras três mulheres ganharam meninas.
Eles foram interrompidos pela enfermeira que trazia em seu colo aquele pacotinho e foi logo brincando:
  — E esses olhos azuis, puxou foi do pai?
Antônio ainda surpreso, simplesmente sorriu e pegou aquele lindo bebê de cabelos loiros e olhos azuis em seu colo.
    Apesar das diferenças o pai conseguia ver semelhança nos traços de seu rostinho.
Uma das mães que estavam no quarto, perguntou para Lúcia como se chamava o bebê, ela toda orgulhosa disse ser Filipe
    A mulher levou um balde de água fria da colega de quarto, ao lhe fazer previsões que, Filipe era sinônimo de dois e que o trabalho seria o dobro.
    A mãe mesmo não acreditando nessas crendices, sentiu no fundo um desconforto e medo da previsão daquela mulher.
    De repente o quarto foi tomado por um forte e estridente choro do menino, a mãe o tomou rapidamente dos braços do pai, e o colocou para mamar.
    O menino parecia estar a dias sem se alimentar, sugava com força o peito da mãe enquanto gemia e às vezes começava a choramingar, quando sentia que o bico do peito começava a sair de sua boca vermelha, que parecia ter passado batom.
    Deu a hora da visita, amigos e parentes começaram a aparecer, e os comentários eram os mesmos:
 — Ele é diferente, de quem puxou esses olhos azuis?
 Isso até irritava a mãe.
    Depois de uma longa e cansativa noite no hospital, em que o garoto mamou e chorou quase a noite toda, o médico deu alta para eles irem para casa.
    Ao chegarem em casa já tinha amigos e vizinhos curiosos para ver aquele “bebê diferente”, e os comentários eram sempre os mesmos.
    A mãe só queria um pouco de sossego e rezava para não aparecer mais visitas.
Na parte da tarde, após passar o grande movimento das visitas, a casa enfim teve um pouco de paz e a mãe resolveu dar um banho no filho, aproveitando para observá-lo com tranquilidade e privacidade .
    Chamou o marido e as crianças, enquanto tirava a roupinha do branquelo, até a própria mãe ficou de queixo caído ao ver o quanto ele diferia dos outros filhos.
    Ele tinha os cabelos amarelos da cor do sol, sua pele branquinha era macia feito algodão e seus olhos eram azuis da cor do céu.
    A mãe sentia que ganhara um presente especial de Deus, e que teria um compromisso mais que especial, para cuidar e criar esse garoto “diferente”, que certamente iria se diferir dos outros irmãos, não só fisicamente e sim em tudo.
    A mulher em seu pensamento, pediu a Deus força e sabedoria, para conseguir dar conta da empreitada que, pelo instinto materno, pressentia que não seria nada fácil.

Direitos reservados ao autor do texto Toninho Saudade.

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