O Encontro - Conteúdo de um próximo livro


— Bom dia, mãe!

— Hoje vai ser um dia de sorte para mim, estou pressentindo que algo maravilhoso irá acontecer em minha vida!

— Que isso, menino, que baboseira é essa que você está falando? Você bebeu?

— Acordei decidido a retomar meus estudos, mãe!

— Que maravilha de notícia Tunico!

— Meu filho, entendo que quando você pôde estudar regularmente, o trabalho te atrapalhou muito, você sempre quis ajudar na casa e infelizmente não conseguiu dar continuidade aos estudos más, agora se Deus quiser vai dar certo!

Dona Fia, a mãe de Tunico estava com seus 50 anos, e após a morte do marido que a deixou com seus dois filhos pequenos, viveu inteiramente para eles, não quis mais envolver em relacionamento algum e ainda trabalhava muito para dar conta das despesas que, apesar da ajuda dos filhos, não era nada fácil.

Seu irmão Tiquinho levava uma vida desregrada, não dando muita alegria para sua mãe.

Ele gostava de farras e já em sua pouca idade se envolvera em um relacionamento que não deu certo e teve como fruto um filho, que por falta de comprometimento deixou a responsabilidade de criá-lo aos cuidados da ex-esposa e a pobre avó que arcava sempre com a parte financeira com o pouco que recebia de sua pensão e da lavação de roupas para fora.

Tunico deu um abraço e um beijo na testa de sua mãe e disse:

— Mãe, te amo muito, você é meu orgulho e meu espelho, obrigado por tudo!

Deu um tapa na bunda da mãe, que saiu correndo atrás dele tentando dar-lhe umas palmadas, sorrindo e lhe advertindo que quando o pegar iria lhe ensinar com umas chineladas, a ter respeito!

— Tunico hoje não vou trabalhar e farei para você aquela dobradinha que tanto gosta!

— Apesar de que nem merecia!

Disse a mãe dando um beliscão nas costelas de Tunico que se esquivou e abraçou a mulher.

— Além desse atrevimento de dar um tapa na bunda da mãe, está nessa folga!

— Uai! Mãe! Eu não tenho direito de tirar férias não?

— Trabalhei muito esses últimos anos!

Tunico trabalhava em um laboratório químico de uma usina siderúrgica e com um bom salário que recebia comprou móveis e eletrodomésticos novos para casa, dando de presente para sua mãe sua primeira TV e uma máquina de lavar, fez melhorias no barracão fazendo alguns puxadinhos e dava uma parte do seu salário para a mãe arcar com as despesas e comprar alimentos.

— Sim, meu filho, tenho orgulho de você que apesar do trabalho que tive, valeu a pena, você virou gente!

— Seu irmão também é uma pessoa boa, porém sem juízo, ele é ruim só para ele mesmo!

Tunico ficou ali ajudando sua mãe na arrumação da casa, depois almoçou, enfurnou em seu quarto e ficou a tarde toda ouvindo música, ora tocando violão, ele estava realmente inspirado naquele dia!

Ao anoitecer, Tunico tomou banho, se perfumou, vestiu sua melhor roupa, jantou e ficou conversando com a mãe antes de ir para sua retomada de um longo período fora das salas de aula.

Deu um beijo na mãe e saiu, enquanto a mulher o abençoava e pedia para todos os anjos e santos o acompanhar.

As orações e intenções da mãe fizeram efeito positivo.

Logo ao passar pelo portão da escola, Tunico ficou meio paralisado ao ver uma moça saindo apressada da biblioteca rumo a sua sala, ela passou por Tunico segurando alguns livros que escorregaram de sua mão e esparramaram no chão.

Tunico não perdeu tempo e foi logo ajudando a garota a apanhar os livros.

Ela olhou para Tunico, deu um sorriso tímido e encantador, e disse:

— Ei! Você é muito gentil!

— Estou vendo que você é novo por aqui.

— Qual é o seu nome?

Essa situação deixou Tunico com as pernas meio bambas.

— Meu nome é Antônio mais pode me chamar de Tunico.

Disse ele com um sorriso escancarado parecendo acabar de ganhar um presente.

— E qual o nome dessa princesa destruidora de livros?

A moça, toda vermelha, abriu um lindo sorriso e lhe respondeu com um olhar meigo.

— Meu nome é Lúcia, mas pode me chamar de Lucinha!

Ela continuou, dando uma mordida nos lábios:

— Não sou destruidora de livros, mais, sim, devoradora, adoro ler!

Tunico aproveitou a oportunidade e soltou uma grande piada.

— Temos algo em comum, eu também adoro esse universo da leitura!

A garota desconfiada dessa informação resolveu tirar a prova perguntando qual o livro que ele mais gostou de ler.

Tunico ficou um pouco vermelho mais não perdeu a esportiva, o único livro inteiro que ele lera era “Zezinho dono da Porquinha preta” isso quando ele tinha seus sete anos, falar que fora esse ficaria muito feio, então ele lembrou de um filme que assistira e imaginou que seria adaptação de algum livro e disse:

— Ao ter muitas opções fica difícil escolher uma.

— Vou escolher um que certamente você nunca leu, provavelmente não é o gênero que você gosta, tem cara de gostar de um belo romance!

— Ela curiosa o perguntou:

— Qual seria esse misterioso livro?

Tunico respondeu sorrindo:

— “Fugindo do inferno” mais não me pergunte o autor porque não sou bom em pronunciar inglês!

Ela o respondeu com um sorriso esquisito:

— Realmente eu nunca li e pelo nome tenho certeza que não iria gostar!

Os dois foram interrompidos por uma moça que, recomendada pela professora, foi averiguar a demora de Lucinha em buscar os livros.

Os dois se despediram, Lucinha foi em direção a sala enquanto Tunico a acompanhava com os olhos até ela entrar, ele tinha a convicção de que ela olharia para trás.

Más ficou decepcionado, ela não olhou, porém, mal sabia ele, que tinha uma amiga na porta da sala a informando apenas com a leitura labial que Tunico não tirara os olhos dela.

Tunico se dirigiu até a secretaria da escola de modo a fazer sua matrícula, como detetive descobriu a matéria que a garota estava fazendo, pois, se tratava de ensino adulto e era feito por eliminação das matérias e depois finalizado com uma prova geral.

Tunico se matriculou e coincidentemente iria começar na mesma sala de Lucinha.

Ele saiu da secretaria e fez questão de passar em frente a sala da garota para vê-la, e dar um tchauzinho.

Distraído, Tunico deu uma trombada com a cantineira que levava algumas panelas, por sorte estavam vazias e saíram rolando pelo chão fazendo um barulhão, chamando a atenção de toda a escola!

Apareceram gente de todo canto, nas portas, janelas, para ver o que estava acontecendo.

Tunico ficou ainda mais desconcertado quando viu Lucinha na porta da sala segurando para não rir, enquanto a serviçal lhe chamava a atenção dizendo:

— Isso é que dá, essa danação para ver a menina na sala de aula e se esquecer de olhar para frente!

— Ela saiu da sala, agora pode olhar a vontade!

— Eita! Danação!

Tunico ajudou a senhora a apanhar as panelas e sem olhar para trás saiu quase correndo e com tanta vergonha que chegou a pensar em nunca mais pisar naquela escola.

      Direitos reservados ao autor do texto Toninho Saudade. 


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