Pano pra manga retalho pra capanga "A gravidez"

 

A gravidez

         
    A mãe estava radiante e linda como das outras gravidezes, porém, se via nitidamente algo diferente, talvez o olhar mais meigo, um semblante alegre, porém demonstrando preocupação ou incerteza, era uma gravidez totalmente diferente das duas que tivera. 
    mulher vestiu um lindo vestido de estampas coloridas, deixando uma enorme silhueta, que mudava de forma o tempo todo, devido aos movimentos impacientes do pequeno ser, que não via a hora de sair daquele confortável, mas apertado útero.
    Ela pegou na mão das duas crianças, uma menina de sete anos e um garoto de três aninhos, tomaram um ônibus e desembarcaram no centro de Bom Despacho, de modo a fazer uma ultrassonografia para ver o sexo do bebê.
    A menina torcia o tempo inteiro para ser uma menina, e já tinha até a imagem da irmã retratada em sua mente e nos desenhos que fizera e mostrara a mãe. 
Em seu pensamento ela seria morena mais clara um pouco que ela, cabelos cacheados, igual ao dela e olhos pretos que nem jabuticaba.
O irmão só queria que fosse um garoto para os dois jogarem futebol e dividir com ele a culpa de suas travessuras.
    E antes mesmo da criatura nascer já era culpado pelo irmão por suas peraltices, quando a mãe interrogava quem fizera algo de errado, como uma ocasião que encontrou a parede da sala feito um quadro de artes modernas, cheia de rabisco de lápis de colorir de todas as cores, a resposta do garoto à mãe foi rápida, dizendo que, quem fizera aquela obra de arte fora o irmão que nem nascera ainda.
    Os três chegaram ao consultório médico e ficaram em uma pequena sala de espera onde outra grávida esperava para fazer o exame do seu primeiro bebê.
    Lúcia trocou algumas experiências com a mulher, aqueles mesmos assuntos de grávidas, dizendo que não era nada fácil, que sentia muito enjoo, cansaço e, que o pai também tinha que ficar grávido para aprender a valorizar mais a esposa. 
    Elas foram interrompidas pela secretária do médico, que chamou a mulher para entrar na sala de exames e logo saía toda feliz, dizendo que seria mãe de dois meninos.
    Aquilo fez o estômago de Lúcia embrulhar, ela sentiu pena da inocente mãe, que padeceria duplamente no paraíso, tendo que cuidar de duas crianças, ainda mais dois meninos, era uma missão quase impossível.
    Ela sentiu uma pequena vontade de que seu bebê fosse uma menina, mas logo pediu perdão em seu pensamento, ao pequeno ser que habitava dentro dela, acariciando a enorme barriga.
    As duas crianças, já impacientes, já tinham foleado todas as revistas da sala de espera e finalmente a mãe fora chamada.
   — Só veio você e as crianças?
 Indagou a secretária do médico.
   — Sim, eles podem entrar comigo?
Perguntou sem graça a mãe.
    A moça respondeu que sim com a cabeça e entraram na sala, onde o médico a esperava sentado em frente a um monitor de computador, com alguns equipamentos na mão.
    Delicadamente a auxiliar do médico a ajudou a se deitar na cama, levantando seu vestido, cobrindo com um pano branco a parte de baixo, lambuzou toda sua barriga com um gel gelado.
    Era realmente uma gravidez diferente, talvez pelo cansaço, ansiedade, por esperar tanto tempo para o exame, Lúcia teve uma indisposição e uma queda de pressão, que assustou o médico, mas se restabelecendo logo, e em poucos minutos o doutor dava a notícia tão esperada, e para a tristeza da irmã que desabou em prantos, pois, iria ganhar mais um irmão para acabar definitivamente com seu sossego.
    Os três saíram do consultório, e para comemorar e amenizar a decepção da filha, passaram em uma sorveteria para se refrescarem daquele calorão do mês de março.

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