Pano pra manga, retalho pra capanga "anjo negro"
Anjo Negro
Anjos existem!
Três anos após o nascimento do menino diferente, ele já se sentia um “Super-Menino”, um garoto de ferro, que nada podia lhe machucar ou fazer-lhe mau, isso tirava o sono da mãe.
O bairro estava bem desenvolvido, com muitas casas, algumas ruas já estavam sendo pavimentadas e muitas construções estavam em andamento.
Para tirar ainda mais o sossego da mãe, apesar das melhorias feitas na residência como: acabamentos do banheiro e revestimento no chão, a casa ainda não tinha muro, somente uma cerca improvisada de tela, e não segurava o garoto.
O menino feito um tatu, cavava e saía por baixo, ora ele a escalava e com a agilidade de um gato, fugia para rua deixando a coitada da mãe com as pernas bambas.
A rua estava muito movimentada, caminhões trafegavam por lá o dia todo, levando materiais de construção para as muitas obras do bairro e isso aumentava a preocupação da mãe, ela não podia tirar os olhos do menino e ainda dar conta de tudo na casa.
Muitas e muitas vezes que Filipe fugira, em um segundo de distração da mãe, ela saía doida deixando panelas no fogo, para o procurar e o encontrava feito um leitão de granja, empanado de areia, dando saltos mortais.
Outra coisa que a mãe não tinha sossego era quando chovia, muitas vezes a mãe dava banho no menino e vestia uma roupinha limpinha, penteava seus cabelos cacheados e loiros, se ela descuidasse lá estava Filipe nadando nas poças d’água todo enlameado.
Os pedreiros e serventes das obras, já eram amigos íntimos do garoto, muitas vezes quando via que o fujão estava na rua, o pegava e o levava para a sua mãe.
Certo dia, Filipe acordou, sua mãe conseguiu segurá-lo em casa por algum tempo, ele brincou um pouco com o irmão, depois os dois se desentenderam e o alemão saiu correndo e chorando.
Em um descuido da mãe, o menino fugiu para rua e foi brincar em um monte de areia no lote em frente sua casa, a mulher cansada sabendo se o colocasse para dentro ele voltaria novamente, ficou o espiando da janela, enquanto cuidava da lida.
Ela fazia suas obrigações e de minuto em minuto, chegava na janela para ver se ele estava lá e quando ouvia barulho de caminhão, saía correndo, para verificar se estava tudo bem com o filho.
Parou um caminhão em frente a construção ao lado, a mãe saiu apressada para ver se estava tudo com o menino, enquanto dois homens, o motorista e o ajudante, desciam alguns materiais para a obra. Ela chegou na janela, deu uma olhada no garoto, que continuava a brincar em seu monte de areia e despreocupou-se.
Em poucos minutos, o menino chegou em casa todo suado e lambuzado de areia, pediu água para mãe, que o pegou no colo, fez um carinho e matou sua sede. O pirralho ficou por ali, e a mulher ficou tranquila, pois, estava de baixo de suas asas.
Lúcia terminou de lavar o banheiro e de repente ouviu uma porta de carro batendo, que identificou pelo barulho ser de caminhão, e saiu correndo e procurando o menino pela casa e nada, ela olhou pela janela e não o viu no monte de areia, olhou para o caminhão e o motorista estava sentado em frente ao volante, olhando um papel e prestes a dar partida.
A mãe desesperada, com o coração na boca, pressentindo que algo muito ruim poderia acontecer, saiu gritando pelo filho.
O motorista parecia que fora avisado por um dos anjos da guarda do Filipe, que pelas suas peraltices, deveria ter pelo menos uns dez seres celestiais como seus protetores, para dar conta do recado. Ele pegou um martelo de madeira, desceu do veículo, e foi averiguar os pneus.
O homem de pele negra, ficou branco e gelado ao ver o garoto escondido entre as rodas do caminhão, e seu coração de anjo se desmanchou ao ver o menino, com aquele sorriso inocente, o olhou, e disse:
— Você me encontrou no meu esconderijo!?
O motorista simplesmente tomou o garoto no colo, e chorou amargamente, enquanto a mãe chegava pálida, para pegar seu filho e agradecer aquele anjo enviado por Deus. Um anjo negro, que salvou seu filho de ser esmagado pelas rodas do caminhão.
Direitos reservados ao autor do texto, Toninho Saudade
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