A cobra - Pano pra manga retalho pra capanga
A cobra - Pano pra manga retalho pra capanga
A cobraLúcia acordou e como de costume, foi cuidar de seus afazeres enquanto Filipe e Juninho balançavam no pé de pequi, em um balanço que o pai fizera, os dois ficavam o tempo todo, hora um empurrava ora outro balançava.
A mãe se ocupava em lavar roupas e pajeá-los, os observando e os orientando a não balançarem tão alto, para evitar uma queda que, acarretaria quebrar um braço ou uma perna.
Marina sua filha mais velha a ajudava a estender as roupas no varal dividindo a atividade em cuidar de duas bonecas, a “Morena e a Clara” que, em seu mundo imaginário eram suas filhas.
— Mamãe, quando eu tiver filhos de verdade não vou querer ter meninos, eles não dão sossego para as mães, só sabem dar trabalho!
Disse a menina balançando no colo a Morena e continuou:
— As minhas filhas são boazinhas e não dão trabalho para mamãe, né meninas?
A mãe apenas sorriu e continuou suas atividades.
Depois do pequeno Filipe balançar seu irmão por uns dez minutos, acreditando que seria o próximo a ser balançado, Juninho simplesmente saltou do balanço no ar, dizendo ter cansado e que não iria mais brincar, deixando seu irmão no prejuízo.
O pequeno se esforçava para subir no balanço, e depois com muito custo conseguiu e com as pontas dos pés, foi tomando impulso e em segundos lá estava o alemão, todo sorridente, imaginando estar voando e sua mãe o advertindo, se ele continuasse a balançar com as mãos soltas ela acabaria com a brincadeira.
O moleque resolveu obedecer à mãe e ficou cinco minutos balançando comportado, quando um barulho estridente e triste chamou sua atenção.
No ir e vir do balanço, ele olhou para o lado e viu uma cena que não entendera direito e resolveu conferir de perto.
O menino pulou do balanço ainda no ar, feito um gato, no reflexo se esquivou do acento que iria bater em sua cabeça e entrou no meio da braquiária, que quase o encobria de tão alta.
Aproximando do que lhe chamara atenção, assustado deu dois passos para trás, mas não fugiu.
Uma jiboia de um metro e meio de cumprimento, da grossura do braço do garoto, estava dando um abraço mortal e prestes a devorar um coelho do mato que se debatia e emitia um som parecido com choro, pedindo socorro.
O garoto não pensou duas vezes:
Tirou coragem não sei de onde, pegou no rabo da serpente, começou a chocalhar a cobra até ela soltar aquele animalzinho que, saiu correndo em disparada sem olhar para trás.
O garoto saiu puxando a peçonhenta pelo rabo em direção à porta da cozinha, gritando a mãe que não o ouvia, pois, estava com o rádio ligado e entretida pendurando algumas roupas no varal.
Foi quando a mulher olhou para trás e deu um berro, deixando um cesto cheio de prendedores caírem ao chão, assustando o garoto, que soltou o rabo da cobra, que ficou ali, se contorcendo toda.
A mãe puxou o garoto pelo braço, quase arrancando-o fora, passou-o para dentro de casa, pegou uma vassoura e mirou bem na cabeça da víbora para matá-la, mas foi repreendida por Filipe que disse quase chorando:
— Mata ela não mamãe, deixa ela ir embora!
A mulher que já estava desencorajada, pois, não tinha coragem de matar nem uma barata, se lembrou do dia em que entrou um rato em casa, o marido a pediu para ajudá-lo a capturá-lo, e com aquela mesma vassoura, ela o prendeu pelo rabo enquanto o marido foi pegar algo para dar fim no roedor que, soltou um chiado e ela o libertou alegando que ficou com pena porque o rato estava chorando.
A mãe corajosamente pegou a vassoura, enfiou por baixo da cobra, a levantou e com toda sua força a arremessou para longe.
Porém, a coitada da jiboia não teve sorte, “saiu do espeto e caiu na brasa”, na verdade, caiu debaixo da roda de um carro que passava no momento em que fora arremessada, a mulher colocou tanta força, que a cobra atravessou o lote e caiu na rua, justamente na hora que o veículo passou.
Isso deixou o motorista sem entender, ele parou o carro para conferir se tratava realmente de uma cobra, que, em toda sua vida poderia jurar, ser a primeira vez que vira uma voando.
Ele se benzeu, fazendo o sinal da cruz, entrou no carro sem entender direito o que acontecera e seguiu pensativo.
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